O chamado escândalo Post Office, considerado a maior injustiça judicial da história do Reino Unido, envolveu mais de 900 subagentes dos correios britânicos (sub-postmasters).
Conheceu-se ontem, a 8 de julho, a primeira parte de um relat´rio de investigação, que revela que cerca de 13 suicídios poderão ter estado relacionados com o caso. Vários funcionários foram acusados de roubo ou má contabilidade com base em dados errados do sistema informático Horizon, desenvolvido para os serviços da Post Office.
Entre 1999 e 2015, cerca de 700 processos foram movidos diretamente pela Post Office. Outros 283 seguiram por iniciativa do Ministério Público ou outras entidades. Muitos dos visados foram condenados e presos, outros foram arruinados financeiramente ou perderam o emprego.
O que motivou os processos?
O sistema Horizon foi introduzido em 1999 para funções como contabilidade e gestão de inventário. Logo desde o início, os subagentes relataram falhas nos registos de caixa, com erros que simulavam prejuízos inexistentes, mas os alertas foram ignorados.
Por contrato, os subagentes eram responsáveis por qualquer desvio não explicado, levando muitos a pagar do próprio bolso valores devidos, numa tentativa de evitar processos legais. Algumas vítimas enfrentaram falência, depressão, doenças graves e até suicídios ligados ao stress vivido.
Em 2017, um grupo de 555 subagentes liderado por Alan Bates, hoje figura central no caso, moveu uma ação judicial contra a Post Office. O caso foi resolvido em 2019 com uma compensação de 58 milhões de libras, a maior parte absorvida por custos legais. Em 2021, começaram a ser anulados os primeiros vereditos condenatórios.
A exposição pública do caso aumentou com a minissérie da ITV Mr. Bates vs The Post Office, emitida em 2024, que gerou forte indignação pública e levou o Parlamento britânico a aprovar legislação para anular em bloco as condenações relacionadas com o Horizon.
Mais de mil milhões de libras em compensações
Até junho de 2025, o governo britânico já pagou mais de mil milhões de libras a mais de 7.300 subagentes, através de quatro programas distintos de compensação:
- Horizon Shortfall Scheme: £559 milhões
- Group Litigation Order Scheme: £167 milhões
- Overturned Convictions Scheme: £68 milhões
- Horizon Convictions Redress Scheme: £245 milhões
Segundo o presidente do conselho independente de compensações, alguns processos individuais ultrapassam 1 milhão de libras em indemnizações.
Inquérito público aguarda conclusões
O inquérito público ao caso Horizon, iniciado em 2022, ouviu testemunhos de ex-executivos da Post Office e da Fujitsu. Entre eles, Paula Vennells, CEO da Post Office entre 2012 e 2019, que pediu desculpa em maio de 2024 pelos danos causados e renunciou ao título honorífico CBE.